sexta-feira, 2 de março de 2018

Feito de sonhos e ossos

Dentro de uma única partida, ocorre simultaneamente inúmeras histórias. Seja do time que ganha e conquista a glória, ou o que perde e tira disso uma lição. Podemos olhar sobre um panorama da equipe inteira ou simplesmente a visão de um jogador em especial.

Vai depender sempre do ponto de vista. Como é possível ver em filmes onde heróis poderiam se tornar vilões ou os vilões mocinhos. Dependendo de quem contar a história.

Sem vilões e mocinhos, nosso time participou do seu primeiro campeonato amistoso contra uma equipe local. Theresina Thunders, que por onde havia passado tinha a fama de equipe nova e inexperiente. Pela primeira vez estava do outro lado da moeda, sendo a favorita que tinha uma história a zelar. Nosso time já tinha participado de 4 competições e eu já treinava a mais de um ano. Tendo viajado, sangrado e comemorado vários touchdown's, e sofrido com as derrotas. Paralelo à isso, eu continuava o novato. Pois, era a primeira vez que jogaria pela defesa.

A bola oval sobe. Iniciamos a partida muito bem! Estávamos recuando o adversário, e deixamos nosso ataque em uma condição favorável para marcar. No segundo momento em que voltamos a campo tudo muda.

Essa é a cena de quem está no cinema cobre os olhos!

Ao levantar e perceber meu dedo torto, olho para o banco de reservas em busca de alguma instrução. Mais já estão todos se preparando para a próxima jogada. O time adversário posiciona a bola e eu só consigo pensar que não daria tempo pra fazer uma substituição. Já assisti filmes suficientes para saber o que fazer, girei o dedo pra posição original. O dedo volta pro lugar. A jogada segue, o jogo segue. E só saio de campo depois de alguma jogada.

Ao sair de campo vou correndo em busca do spray milagroso pra anestesiar uma dor cada vez mais latente. E improviso uma atadura, que me ajudaria a permanecer nas jogadas seguintes. Aguentando pelo menos até o intervalo.

Assim que o juiz apita, vou até um amigo da área da saúde para fazer um curativo melhor. O sangue já está frio e ele me informa que vai ter que imobilizar o dedo junto ao outro. Nesse momento a dor vem à tona, o protetor bucal serve mais pra morder do que para proteger nesse momento.

O jogo continua e eu ainda estou em campo, mais o favorito não mais. Estamos perdendo por uma posse de bola. E a defesa precisa fazer sua parte pra dar uma chance ao ataque, e voltar a campo. Falta poucos minutos pra acabar o jogo, e todos já se olham com apreensão. A defesa consegue erguer um muro e parar o adversário e dar ao nosso ataque uma última campanha para marchar e alcançar o touchdown do empate.

Depois eles conseguem um touchdown que os daria a vitória, desde de que a defesa segurasse mais uma vez o ataque. A bola sobe interceptação o juiz apita fim da prorrogação fim do jogo. Teresina Thunders conquista sua primeira vitória.

Só então a ficha cai, e fiz minha ficha no médico, o raio x revela a lesão. A preocupação imediata passa a ser se eu volto a tempo do campeonato que vai ser daqui alguns meses. Depois, como jogaria vídeo game e até mesmo como faria coisas tão simples como colocar meu nome na lista de frequência da faculdade. Mas valeu a pena, sair do jogo logo de início não era uma opção. Foram dias, meses de treinamento para aquele momento. E nada me faria desistir.

Os guerreiros em campo de batalha não tinham tempo para pensar. Sabíamos que tínhamos cumprindo o que nos foi pedido. E assim, continuaremos com esse propósito. E é assim, que seremos lembrados.



Luan Gabriel Silva Sousa