Não é possível escrever no olho do furacão, ainda que você ache uma caneta, a folha se moveria demais.
Quando a bomba cai, é preciso a poeira baixar para entender o que aconteceu, em dias assim, eu demoro para levantar, na esperança de que se o dia for mais curto, será mais fácil lidar com ele. O almoço é tão adiado que quando finalmente a comida forra o estomago, é como se algo tão cotidiano como matar a fome, já é parte da solução, na sala minha irmã assiste uma série de médicos onde a vida, morte e amor andam lado a lado, onde a última cena, onde todo mundo pode ser herói é algo frequente, recuperação milagrosa ou o inevitável fim, mas prefiro ficar no meu quarto, que um dia era alheio a tudo que acontecia do lado de fora.
Não bebo vinho mas é como se alguns sentimentos sejam imensos demais e precisam ser degustados, mesmo os mais amargos, a dor da saudade, a gratidão por saber que você só pode partir pois um dia chegou.
Há poemas que são tristes e outros falando de quão perto chegamos do paraíso, poesias não ganha batalhas ou conquistam corações, registram da melhor forma a bagunça que ficou e tenta organizar, se é não possível escrever no olho do furação, é impossível não esquecer quando ele passa e nos faz questionar o quanto vale esse espaço entre um vendaval e outro, quão alto podemos erguer nossos castelos de cartas sabendo que sempre estão a um triz de cair.
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