domingo, 30 de agosto de 2020

Greve dos Correios


   Uma vez que o blog sempre retratou temas e situações reais, acho importante fazer uma pequena nota que as 5 cartas seguintes são parte de um projeto que apesar de ter raízes na realidade ele se permite voar no campo da imaginação, é um primeiro tijolo de uma ideia de escrever um livro sendo assim algumas datas e acontecimentos são mera licença poética. Boa Leitura.





Minha Querida, Minha Cara.

   Há semanas não tenho notícias suas, tive de apagar as primeiras cartas pois estas ficaram muito desatualizadas, como os navegadores aguentavam meses no alto mar sem notícias ou algo novo? 
  Tudo tem sido só um mar de mais do mesmo!
  Investir minhas economias e até agora estou no prejuízo, mas quem poderia prever que tudo iria fechar? As informações são imprecisas, mas tenho a esperança que maré mude!
   Já assistiu Lost? Vou continuar presumindo que sim.
   Se assistiu lembra do episódio do barco em que o cara tem a consciência que volta no tempo e pede pra mulher ligar pra ele 15 anos depois pois só assim ela salvaria sua vida. Ainda que eles tenham se afastado.

    Quando penso nisso, concluo que você seria a pessoa que eu escolheria até porque apesar da distância e do tempo, sinto que minha vida ainda é entrelaçada na sua.

   Se não assistiu desculpa o spoiler, mas que é culpa sua perder Lost! (Sabe que fico rindo desses trocadilhos)

    Terminei desventuras em série, dessa vez os livros e não a série e sedento por mais, procurei na internet outros materiais que pudessem me deixar viver um pouco mais dentro desse universo que mostra que os maiores revezes são menores dependendo de quem está ao nosso lado.
Li um livro lançado posteriormente que contém as cartas trocadas entre os personagens.
Muito bonitas, cartas que eu queria ter escrito pra você, inclusive nelas existem códigos escondidos que só você entenderia.
Esse livro só existe em inglês mas achei em um TCC que o traduzia e com notas explicando as expressões que por serem trocadilhos só fariam sentido na língua original.
    Você é como um livro que traz conforto, e apesar das noites viradas e palavras jogadas ao vento, sinto que a natureza irá me perdoar se eu gastar algumas páginas na esperança que algumas dessas palavras fiquem guardadas na mente e na falha dessa numa gaveta ou numa caixa de sapato, nunca pensei que precisaríamos de fotos uma vez que sua imagem parecia gravada na minha retina, mas também sempre pensei que poderia te ver todo dia, e minha experiência me mostra que registros é algo bom para se encontrar num fim de sábado quando estamos limpando a casa e recordamos de uma outra época.



Não sei se há diferença esta cercado por água em um navio, em uma ilha deserta ou no quarto cuja a porta quase nunca está aberta.





Atenciosamente, Luan



10/04/20 











Minha Querida, 

    Ao concluir a primeira carta, notei que faltaram informações de como estou e se quero saber como estão os seus dias tenho de dá o primeiro passo e narrar minha rotina 

O cabelo mais longo é a menor das metamorfoses.

Na impossibilidade de alterar a variável espaço, nesses dias de confinamento brinquei com o tempo, em dias eu acordava às 6 h, em outro era nesse horário que eu ia dormir, viajando pelas páginas dos livros no silencio da madrugada ou iluminadas pelos primeiros raios de Sol.

Num primeiro momento foquei em terminar as leituras adiadas pelos livros de direito, mas devo confessar uma queda por reler os livros, é confortável provar novamente aquele sentimento, tão importante quando ir além, é não deixar o que importa para trás.

Tento encontrar esse equilíbrio de encontrar belas história inéditas e manter vivas aquelas que já provei e sem falar que ao reler por já termos novas vivências, sempre notamos algo diferente. Ninguém nada duas vezes no mesmo rio.

Minha palavra preferia hoje está quase em desuso. Nuance.
No Twitter onde tudo é ótimo ou péssimo.
Penso no livro 1984, onde diminuem o vocabulário para a língua ser menos complexa e assim mais fácil de moldar o pensamento.
Sei por alto, essa leitura está a caminho mas acredito que seja o momento de entender melhor a pós-verdade.

Humberto em um de seus livros comenta sobre isso, se é melhor reler e analisar pontos que as vezes se passa despercebido ou aquela surpresa de descobrir o enredo pela primeira vez.
Se é melhor assistir um jogo no estádio no calor do momento ou no conforto do sofá com todos os replays ou se no rádio onde um chute do meio campo parece ser perigoso.

Deve ser daquelas perguntas sem resposta, como o tal caminho para a felicidade que por não ter uma só rota nas possibilita fugir do que é imposto mas na busca de traçar seu próprio caminho, há sempre o risco de a gente se perder. Gosto de pensar que ainda que perdidos se não pararmos de andar, chegaremos ao destino.

Há dias que cumprimos a risca cada série do exercício, em outros não saímos da cama enquanto a série se passa na tevê, o que me impressiona é que mesmo nesses dias o joelho dói, e apesar de colocar gelo parece que a única coisa que amenizava a dor era o toque dos seus dedos. 

Entre as histórias inéditas e as que visitamos algumas vezes 

É bom ter metas que não alcançamos
Não terminei Naruto ou The office apesar de gostar muito
O próprio Guia do mochileiro não li todos
Gosto de pensar que o melhor está por vim, que apesar das valiosas memorias ainda vou te encontrar.
E que o chocolate guardado para amanhã é mais saboroso que o que comemos sem pensar, deve ser porque é reconfortante que exista uma reserva, um carta na manga. 



Atenciosamente, Luan 



29/05/2020 











Querida, 

A essa altura já esperava ter noticias suas, acho que entrei fundo da analogia do barco em alto mar, em dias em que a internet não colabora ela faz mais sentido, sei que sempre existe o risco das cartas se perderem ao atravessarem o mar, mas estamos do mesmo lado do rio. 

São 4:15 da manhã, o horários que o mundo faz menos sentido talvez a rotação e translação gerem uma momentânea desorientação, talvez porque é um ponto onde ao mesmo tempo que pensamos no dia que passou, planejamos o dia que está nascendo, sem ninguém para conversar e sem nada aberto, o presente vira um limbo, tudo que podemos fazer é esperar o Sol nascer. 

Os livros estão a caminho, a data de previsão me ajuda a pensar, riscar os dias do calendário, com essa pandemia é diferente, pensei que demoraria um longo mês e agora ela parece que vai cobrar um ano, pensei que te veria no meu aniversário, agora só próximo ano. 

Arrumei o quarto, tirei cada grão de pó, reorganizei os livros, coloquei o Pikachu do lado da tv, colei os quadros na parede e passei pano no chão, é um grande desperdício você não está aqui e gera um sentimento de urgência pois sei que apesar do cuidado amanhã estará um pouco menos limpo, apesar de sempre repetir para mim mesmo nunca esperar condições ideais, quando se trata de ti tento deixar as coisas boas, tinha comprado bis para caso viesse de surpresa mas hoje os comi, parecia a uma forma de deixar um pouco doce essa noite amarga. 

Não quis me repetir, devia ter feito uma lista de tópicos que já abordei em cartas anteriores, mas sempre me confundo com o que foi dito e o que acabou sendo deletado com as cartas que ficaram datadas demais para serem enviadas. 


Até qualquer dia!



Atenciosamente, Luan


20/06/20 









Minha cara, Caríssima,

Os livros chegaram, queria ser mais blogueiro (que hoje em dia nada tem a ver com ter um blog) e escrever uma resenha para cada um, tirar fotos legais e tudo mais mas acho que não é a minha.

Maus e 1984 me mostraram o quanto a liberdade é valiosa e ainda assim frágil, vejo as obrar interligadas ainda agora quando escrevo misturo os fragmentos de Maus com A Vida é Bela e Bastardos Inglórios, como se tudo fosse um quadro do Picasso, uma historia sendo contada por diferentes pontos de vista e formas, 1984 fala a importância de se conhece o passado para evitar cometer erros ainda assim me assusta pensar que estamos tão próximos dessa distopia onde a verdade não é nada, só uma palavra esperando tradução. Lá aparece a palavra Nuance e isso me deu grande satisfação, como quando você me perguntou que dia era, só por que comentei contigo que meu relógio tinha essa função e eu estava usando ele por que você havia comentado comigo que achava bonito quem usa relógio, apesar de ser sobre um relógio não faço ideia de quanto tempo isso faz.

Ouvindo aquele programa conversa com Bial, um filosofo resumiu o que penso, queria ter gravado, mas só notei que queria ter gravado depois de ter visto e assim era tarde demais. Alguns capitulo adiante Winston nota que não está sozinho em sua visão, ainda que tudo tente mostrar que sim e que o livro da revolução não conta nada que a gente não saiba apenas organiza os pensamentos de uma forma mais precisa e coerente.

Coraline li em uma noite, e apesar de seu terror gostaria de ter passado mais tempo em sua companhia, não sei como está no dicionário, mas acredito que a definição de coragem deva ser fazer o que é certo diante do medo.

Eu poderia citar mais livros, mas assim ficariam poucas linhas para obras que merecem uma carta só para elas e só estou comentando sobre elas para você por que não aconteceu nada de muito novo e aqueles áudios enormes muitas vezes era só por saber que você iria tirar alguns minutos do seu dia para me escutar, ainda que de longe era o mais perto que eu tinha da sua companhia.

Cheiro de livro novo, Jr se admirou quando falei que ainda lembro do seu cheiro, talvez eu lembre de que seu cheiro era único e lembro de eu pensar isso, eu guardo um pouco do perfume que usava para te ver assim tenho uma carta na manga pois dizem que o olfato está ligado com a memória ainda assim sei que é um plano imperfeito pois o cheiro correto seria do meu perfume misturado com o seu, mas faço o que posso.

Queria ter começado um diário no dia que te conheci mas talvez, na impossibilidade de lembrar tudo, o que fica é o mais importante, não necessariamente o melhor, talvez eu tenha esquecido o nosso melhor beijo mas lembro uns bem marcantes e na real, se me perguntasse qual foi o melhor, eu sempre responderia, o próximo.


Ainda atenciosamente, Luan 



12/07/20 






Sabe, é engraçado se fosse possível fazer o download de tudo que conversamos eu precisaria de um HD, tomará que não seja possível, gosto de pensar que era um momento só nosso e que não pode ser reproduzido, mas se fosse possível talvez que quisesse ouvir novamente sua risada após eu contar uma boa piada e principalmente após eu contar uma piada ruim, seria um bom material para um podcast ou livro mas diante de tudo essa imensidão acho importante algumas respostas e lhe ofereço 12 das perguntas mais frequentes.



1- Hoje cedo do Nando Reis- Não é a melhor canção dele ou minha música preferida mas quando ele fala dos 3 desejos que ele faria, bom, de alguma forma sei que essa parte ele roubou de mim em alguma carta que escrevi para você e ele interceptou mas tudo bem, fico feliz que ele tenha musicado isso, é um sentimento triste e feliz uma mistura agridoce.

2- Tocar sua pele macia, unir seu rosto ao meu. 

3- Claro que minha resposta é assistir NFL contigo o dia todo sem sair cama, mas imagino que você gostaria que eu falasse para a gente ir a praia, então pode ser a praia antes de começar a temporada.

4- Mousse de Limão. 

5-De todas as perguntas essa é a mais difícil e juro que pensei por horas até me render e admitir que não sei, não consigo imaginar 

6- Espíritos, você brava e altura, nessa ordem. 

7- É como as canções dos Engenheiros, não diria que existe uma lembrança favorita, existe aquela que se combina melhor com o dia, claro que poderia fazer uma lista das 10 em que penso mais frequentemente, mas não foi essa a pergunta.

8- Conhecer você é tão significativo para mim quanto o próprio Big Bang, não abriria mão disso, apesar dos pesares, de cada lagrima e saudade para abastecer inúmeros caminhões e não trocaria isso por um cartão que me desse pipoca doce no cinema para sempre.

9- Sim, eu guardo.

10- Não entendo por que precisaria escolher entre um e outro mas com essas opções, o Vasco entenderia se eu esperasse mais alguns anos para ver ele campeão. 

11- Sim 

12- O som de você batendo na minha porta.


 Com tantas cartas devolvidas ao remetente me questiono se você era fruto da minha imaginação, mas concluo que eu era o amigo imaginário que foi esquecido.

27/08/20