sexta-feira, 26 de abril de 2013

Papel, Caneta , Uma Noite de sono a menos.



Doze de novembro, uma noite silenciosa, silêncio esse que só foi quebrado pelo choro de uma criança que acabava de nascer no meio da floresta, sua mãe gritava de dor e segurava a mão de seu pai, mas a história que quero contar é mais na frente, vamos avançar um pouco.

     Então no seu último suspiro ele olhou as nuvens, tudo era silêncio até sua canção favorita começar a tocar e ele fechou os olhos.

 - Opa! Avançamos demais, vou tentar mais uma vez ...

     Rafael cresceu em uma família feliz seu pai era músico e sua mãe professora, eles viajavam muito e sua mãe cuidava de sua educação e o pai fazia shows e ensinava a tocar todos os instrumentos.
     Uma vida com os pés na estrada não é fácil, ter seus amigos espalhados pelo mapa não é nada prático na hora de chamar a galera para sair, mas também tem seu lado bom! Brasil, um país continental, tem tantas belezas que chega a ser injusto ter somente uma vida para conhecer e desfrutar delas.
     Rafael sempre se encantou pelas músicas, mas nunca conseguiu escrever uma, talvez nunca seja uma palavra forte demais. Ele conseguiu escrever canções, belas canções, tudo o que ele precisou foi papel, caneta e conhecer certa garota.
    O pai de Rafael assinou um contrato com uma empresa de eventos e com isso ficaria cerca de dois meses na mesma cidade, uma eternidade.
Rafael como não ia a escola tinha muito tempo para não fazer nada, exatas oito horas as quais ele utilizava para dormir. Sua mãe por saber a importância da educação, ensinava e passava lição para seu filho como nenhuma escola teria feito, o resto do tempo ele praticava violão, lia ou ficava encarando o papel esperando a música que insistia em não vir. Essa era a rotina a não ser quando ele encontrava uma galera jogando bola, havia algo em correr até a exaustão parecia lhe dá muito prazer.
     E foi atrás de uma quadra que ele saiu naquela manhã, até encontrou, mas estava vazia, na arquibancada só uma menina com cabelos negros, negros como a noite.
Ele se aproximou e ela notando isso tirou o cabelo do rosto pareceu ser em câmera lenta como nos filmes. Ele queria perguntar que horas seria o próximo jogo, mas só conseguiu falar algumas combinações de letras pouco usuais, pelo menos no nosso idioma, quando voltou a si , a menina estava perguntando se ele era estrangeiro, Rafael sorriu e sentou passaram o dia conversando compartilhando aventuras, ele falava dos lugares que conheceu e ela contava sobre os livros que leu.
Uma despedida que soou mais como uma promessa de reencontro na manhã seguinte.

   Quando chegou ao hotel foi tomar um banho e sua mãe levou um susto ao ouvir o grito do garoto que repetia que havia conseguido e só de toalha com uma folha de papel em sua mão mostrava sua música, sua primeira música.
       E Foram dois meses incríveis tão incríveis que prefiro deixar você leitor imaginar, mas só vou dar uma dica aqueles dois jovens mantinham contato o tempo todo estando próximos ou não.
      Era chegada a hora da partida, Rafael encontrou Jes nas arquibancadas e ela não demonstrou nada quando soube que ele iria partir, sem abraços, sem despedidas, ele olhou até ela sair do alcance de sua visão e jurou que não iria ligar, iria esperar que ela sentisse sua falta.
     Na estrada toda hora surgia algo que ele queria contar para ela, mas ela não dava nem sinal, ele pensava muito nela e para não ligar só um orgulho muito grande mesmo.
    Nos noticiários predominavam matérias sobre a guerra que começava há poucos dias, ele chamou o pai e juntos em um estúdio gravaram um CD fruto daqueles dois meses, os únicos nos quais Rafael conseguira escrever.
    Depois de registrar seu legado se despediu dos pais e foi para a guerra, Jes, a garota de cabelos negros uma vez falou de um livro que tinha um enredo que era mais ou menos assim, ele odiou pensar nela mais uma vez, pela milésima vez.
    A metralhadora era diferente de sua guitarra, o som era mais rústico e repetitivo, antes do fim da guerra Rafael foi atingido, o frio do metal encontrou o calor de seu corpo ele soube na hora que dentro de pouco tempo estaria morto, ele se lembrou do final do livro, lembrou-se da última vez que viu Jes e sua imagem foi ficando mais distante até se perder. Então no seu último suspiro ele olhou as nuvens, tudo era silêncio até sua canção favorita começar a tocar e ele fechou os olhos. 

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